sábado, 18 de agosto de 2012

Ficar pra titia é melhor que ficar pra mamãe!

Gente, nos tempos de antigamente (tempos idos, pelo menos para as cabeças mais cultas e desenvolvidas), as mulheres tinham uma verdadeira obrigação de casar. A família arranjava o marido, a mulher conhecia o desgraçado no altar, diante do padre e da sociedade, e isso era o melhor que o destino poderia oferecer. Caso contrário, seria como que condenada a depender dos irmãos, dos cunhados, de estranhos caridosos ou tornar-se uma religiosa. Eram estas as três únicas opções das mulheres: casar, ser uma freira ou sofrer eterna discriminação da sociedade e depender da caridade dos outros. Não tinha outra opção.

Nestes tempos, a mulher solteira recebia diversos apelidos pejorativos, como vitalina, solteirona, encalhada e outros nomes ridículos. Num mundo em que os valores religiosos prevaleciam (digo antigamente), esta solteira não podia ter uma vida sexual, muito menos ter um filho. Seria pior que uma vitalina, seria uma prostituta e ponto final. Em algumas culturas, seria apedrejada em praça pública (Maria Madalena da Bíblia, por exemplo).

Os homens de então podiam exercer toda a liberdade sexual, em nada isso os prejudicaria. Se a mulher não cumprisse suas "obrigações" de esposa, poderia ser devolvida para a família para viver toda a humilhação que era direcionada a uma mulher separada, toda maldade psicológica imaginável. Restava-lhe, assim, fazer as vontades sexuais do marido. Se ela cumprisse com as obrigações sexuais e mesmo assim não engravidasse, dando filhos ao marido, poderia ser trocada ou mesmo "compartilhar" o marido com prostitutas (quem sabe até morta, como Henrique VIII fez com suas rainhas, quando enjoava delas?).

Já que mulher é uma raça extremamente desunida, ela mesma inventou apelidos infames para maltratar as mulheres sem filhos, solteiras ou casadas. Além de todo o sofrimento da solteirice, cruel para a época, ou de não "dar filhos ao marido", também horrível e angustiante, as infelizes inventaram de dizer que mulheres sem filhos são as que "ficaram para titia". Ser alguém que ficou pra titia era um peso para a sociedade. Uma condenação.

O tempo passou, passou, séculos depois, em 2012, vejam só, ainda há quem diga que mulher sem filhos é aquela que ficou pra titia. Ainda há mulheres infelizes apelidando pejorativamente as outras. Fulana "ficou pra titia", "é seca por dentro" (já ouvi essa), "mal amada" e várias outras bizarrices. Algumas pessoas, não entendo porque, mas não entendo mesmo (se alguém entende, por favor me explica), dizem que mulher que não tem filhos é egoísta (heim?). Pois é, mulher que não sabe dividir a sua vida com um filho, que  não sabe partilhar, só pensa em si e outras besteiras. Ah, tem também aquela de dizer que uma mulher só sabe o que é feminilidade se for mãe. Só sabe o que é amor se experimentar a maternidade. 

Ei! Gente, para o mundo que eu quero descer! Em pleno século XXI esta cultura ainda existe. Que lástima!

Pois quero dizer que observando bem, mas bem atentamente mesmo, percebe-se que "ficar pra titia" é muito, mas muito melhor que ficar pra mamãe. Estatisticamente melhor.

Por exemplo, veja este site:


Você imagina uma instituição chamada SOS solteira sem filhos? Não, né? Claro, esta não precisa de ajuda, exatamente porque não é mãe. Ser uma tia solteira é inegavelmente melhor que ser uma mãe solteira. Alguém contesta? 

Mais: meninas com menos de 20 anos que se tornam mães, entram para as estatísticas negativas do IBGE. Observe o que diz este site: "[...] a maternidade entre 15 e 19 anos eleva os riscos de mortalidade para a mulher e o filho, além de agravar a vulnerabilidade das mães adolescentes, que muitas vezes precisam deixar a escola no período da educação básica".

Gente, quando eu li o texto acima, imediatamente pensei na jovem Tábata Cláudia Amaral de Pontes, de 18 anos, aprovada em Harvard e em outras grandes universidades dos EUA. Você tem alguma dúvida de que ela jamais conseguiria aprovação em tão bem conceituadas universidades se tivesse um filho, aos 18? 

Meus amigos sabem que eu de vez em quando gosto de dizer: "imagina escrever a tese de doutorado com uma criança chorando, gritando, perturbando você ali do lado?" Coincidentemente, encontrei este desabafo de uma mãe doutoranda, aqui. A vida da mulher virou um inferno. Eu, que sou mestranda em Letras, tenho muita paz de espírito porque sou solteira, nada me impedirá de escrever uma boa dissertação e cumprir as minhas obrigações, pois não tenho filhos. Maravilhosa vida de titia, vejo os meus sobrinhos no final de semana, quando apenas brinco com eles, me divirto e somente curto a vida alegre da infância deles. Ao primeiro sinal de transtorno, a mãe é imediatamente acionada (problema dela, não meu). Isso sim, é boa vida.

Pior é a situação da mãe que se vê obrigada a criar os filhos sozinha. De acordo com este site, os brasileiros se separam cada vez mais. De cada 4 casamentos, 1 já acabou em divórcio. Ou seja, mais ou menos de cada 4 mães brasileiras, uma não tem o pai da criança ao lado para colaborar. O site indicado mostra que os homens, depois que se separam, passam a consumir produtos esportivos para si, bebidas alcoólicas, coisas assim, ou seja, tornam-se pessoas "livres" de responsabilidades. Daí as mães assumirem maiores e mais difíceis encargos. Veja bem, a ex-esposa sem filhos também fica livre, nestas relações. Quem fica melhor, a que ficou pra mamãe ou a que ficou pra titia?

Ah, não vou nem falar daquelas mulheres casadas com homens "sangue-sugas", aqueles "trastes" que mais atrapalham que colaboram... São tantas!

Enfim, poderia mostrar outros inúmeros motivos pelos quais considero imensamente melhor "ficar pra titia" que ficar pra mamãe. É totalmente anacrônico discriminar as mulheres sem filhos, concorda comigo?

Abraços da titia,
Késia Mota


4 comentários:

Lia disse...

Oi Kessia, ainda que 2 anos mais tarde que vc postou esse post, estou comentando (só agora li) tenho 35 anos e sou solteira. Essa condição nunca me afetou porque eu já passei por relacionamentos muito ruins e muito bons para chegar a conclusão que só vale a pena investir num relacionamento (que demanda tempo, disposição e dinheiro) gostando muito da pessoa. Ter um namorado so por ter é perda de tempo. Assim penso eu,
Pois bem, nunca sofri discriminação por parte da minha família e vivi muitos anos fora do Brasil (Europa) onde as pessoas nao se importam tanto com a vida dos outros, principalmente das outras.Foi voltar ao Brasil e voltar a trabalhar é a estudar aqui para ouvir de meus colegas termos pejorativos, comentários jocosos e maldosos: que eu sou egoísta por nao ter filhos, que eu tenho que correr pra ter antes que passe o tempo... Agora o mais maldoso tenho ouvido das próprias mulheres. E incrivelmente de mulheres que estão numa situação muito pior que a minha. Ontem ouvi de uma "amiga" minha a expressão "é vc ficou pra titia" justo ela que esta namorando as escondidas um cara """"separado""""( se fosse porque as escondidas?"
Enfim, aqui no Brasil tenho me sentido encalhada (e que isso será uma condição eterna) o que nunca me senti na Europa.

Késia Mota disse...

Gostei muito do seu depoimento, Lia. Obrigada.

Anônimo disse...

Muito bom seu depoimento..mas moça, nao acha que pegou um pouco pesado nao?.
Sabe, sou mae solteira e estou vencendo muitos obstaculos, e nem por isso deixei de estudar. Muito pelo contrario isso fez com que eu estudasse ainda mais. Ficar pra titia e melhor que mae solteira? E sim. Logico. Mas ser mae solteira e melhor que ser uma pessoa de mente vazia que acha que so porque a outra e mae solteira que a vida dela acabou. Na verdade, so esta se iniciando uma nova fase. Um jovem mae solteira e muito mais madura do que uma
jovem estudante sem filhos. A mae solteira pensa no futuro, pensa por dois. Enquanto outros pensa apenas na sua vida e no agora...

Késia Mota disse...

Gostei do seu depoimento de mãe solteira. O meu texto não desconsidera a luta da mãe solteira, apenas considera a disciminação contra a mulher que prefere não ser mãe, expressa no final do seu depoimento "outros pensam apenas na sua vida e no agora". Cada um tem direito à liberdade de conduzir a própria vida como achar melhor, sem julgamentos de valor, muitas vezes equivocados. O que seria pensar somente no agora? Pensemos no bem, é o que importa. Abraços a todos, Késia Mota