segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Crônica da simplicidade

Késia Mota

Não precisa ser especialista, psicanalista ou psicólogo para entender algumas questões humanas em vigor. Concorda? (Não sei). Digo que gosto de ser uma pessoa simples e conviver com pessoas simples, você sabe disso, não sabe? (Claro, você se sente bem onde quer que esteja, inclusive sabe conviver muito bem com a sofisticação, ressalte-se). Verdade, mas falo da simplicidade do coração, dos afetos, você sabe do que estou falando. (Ok, entendi).

Nas redes sociais, as pessoas sentem que precisam apresentar o melhor de si, expor o que é interessante. (Claro, isso é natural, não acha?) É natural, mas há uma consequência que eu considero nefasta e que atenta contra a simplicidade da vida, contra a valorização dos fatos pequenos, que ocupam a maior parte. A vida pode ter momentos grandiosos, e isso é maravilhoso, mas são raros. A maior parte dos momentos são, na verdade, comuns e não extraordinários. (Tem razão).

Porém, as pessoas querem fazer as outras acreditarem que as suas vidas são repletas de momentos grandiosos, mas isso não pode ser verdadeiro. Essa necessidade de fazer crer que a vida é grandiosa, a meu ver, é, na realidade, receio de demonstrar fraqueza, o que eu entendo como complexo de inferioridade.

Em algumas ocasiões, recentemente, vivi a experiência de estar com algumas pessoas em restaurantes. O que eu sempre entendi como sair para jantar? (Estar junto, beber, comer, bater papo, compartilhar histórias mútuas, conhecer-se). Isso mesmo. Eu acho que isso é a minha simplicidade, e esta parece estar em desuso, infelizmente. Na verdade, nestas situações recentes, em restaurantes, o que eu vivi foi algo muito diferente disso. A ideia de compartilhar histórias em comum e fortalecer laços de amizade parece ultrapassada. A moda, agora, parece ser a exaltação própria.

(Conhecendo você, creio que você fica calada ou monossilábica, nestas horas, não?) Exatamente. Eu permaneço em silêncio, falo muito pouco, ouço pacientemente, pois entendo que as pessoas querem poder falar, falar e falar, o máximo possível, das suas grandiosidades: das inúmeras viagens, especialmente se for para o exterior, dos restaurantes caros que costumam frequentar, das celebridades com quem mantêm contato frequente, das centenas de filmes, dos grandes feitos, como prêmios, publicações, e todas as suas glórias. Elas falam sem parar; eu, calada, só ouço.

São capazes de relatar listas e listas dos seus feitos, sem sequer esperar que eu diga alguma coisa, que eu expresse opinião. Não sei dizer que expressão facial eu faço, sabe? (Você costuma ser expontânea, quanto às expressões faciais, não disfarça muito o que pensa, não). É, talvez eu faça cara de nada ou de tédio, mas ouço. Elas falam, contam pabulagem, exaltam-se vigorosamente. Eu ouço, fico quieta, mas não desanimo. Sei que ainda existem pessoas que valorizam a simplicidade, a troca, a amizade, o interesse pelo outro, a alteridade, o companheirismo. Sair com uma pessoa para jantar, ela perguntar: Do que você gosta? O que quer comer? E eu, simplesmente, poder responder: O importante é estarmos juntos.

João Pessoa, 30/09/2013

Um comentário:

Vivi Negreiros disse...

Muitas vezes família não é nosso sangue. O nosso sangue se transforma em parente. Pois família é tudo de bom: é aquela pessoa que nos da afeto, aquela que nos abraça, que nos da um telefonema carinhoso, aquela que se preocupa em saber se vc estar bem. Família as vezes é aquele amigo que te trata como um tesouro, pois família é o aconchego gostoso........................ Já o parente é aquele que o sangue é o mesmo, mais o sentimento não.......................................