quinta-feira, 24 de março de 2011

Gêneros textuais, de Marcuschi



MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. pp 19-63.

Este é um texto de imenso valor para o conhecimento de informações fundamentais em linguística textual. O grande mestre interacionista, Marcuschi, ensina, de forma muito clara, os conceitos de texto, tipo textual, gênero textual e domínio discursivo. O texto, chamado de coletânea, pelo autor, é dividido em sete itens e apresenta explicações precisas, exemplificadas de forma prática. É um importante material para quem queira ingressar no estudo da lingüística textual.
Marcuschi inicia abordando a perspectiva sócio-discursiva dos gêneros textuais, apontando o fato de que os gêneros são “eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos” (MARCUSCHI, 2002: 19). Em seguida, ainda no item 1 do texto, relata um breve histórico dos gêneros textuais.
No item 2, intitulado “novos gêneros e velhas bases”, Marcuschi apresenta o conceito de suporte, ao explicar que as novas tecnologias proporcionaram o surgimento de diversos novos gêneros textuais, a partir de novos suportes – rádio, televisão, jornal, revista, internet etc. Neste item, esclarece-se que os novos suportes favorecem a criação de novos gêneros, mas que estes novos gêneros são todos ancorados em velhas bases, ou seja, outros gêneros já existentes anteriormente. Por exemplo: o chat (bate-papo pela internet) é uma nova forma do gênero conversa pessoal, que também favoreceu o gênero conversa ao telefone.
Marcuschi observa que “em muitos casos são as formas que determinam o gênero e, em outros tantos serão as funções. Contudo, haverá casos em que será o próprio suporte ou o ambiente em que os textos aparecem que determinam o gênero presente”. (MARCUSCHI, 2002: 21).
No item 3, o conceito de tipo e de gênero textual. Marcuschi afirma que toda comunicação verbal se dá através de algum gênero textual. De acordo com uma perspectiva sócio-interativa da língua, o autor afirma “que os gêneros textuais se constituem como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo. (MARCUSCHI, 2002: 22). Tipo textual, por sua vez, é a expressão usada “para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. (MARCUSCHI, 2002: 22). Os tipos textuais são: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. Os gêneros, por sua vez, são inúmeros.
Marcuschi esclarece, no item 4, que muitos livros didáticos usam a expressão tipos de textos para designar gêneros textuais. Então, explica detalhadamente o conceito de tipo textual, enfatizando a ocorrência de textos tipologicamente variados – a heterogeneidade tipológica. “Quando se nomeia um certo texto como ‘narrativo’, ‘descritivo’ ou ‘argumentativo’, não esse está nomeando o gênero e sim o predomínio de um tipo de seqüência de base”. (MARCUSCHI, 2002: 27).
Resumindo de forma muito didática o assunto do item 4, o autor ensina: “um elemento central na organização de textos narrativos é a sequência temporal. Já no caso de textos descritivos predominam as sequências de localização. Os textos expositivos apresentam o predomínio de sequências analíticas ou então explicitamente explicativas. Os textos argumentativos se dão pelo predomínio de sequências contrastivas explícitas. Por fim, os textos injuntivos apresentam o predomínio de sequências imperativas.” (MARCUSCHI, 2002: 29).
O item 5 é intitulado “observações sobre os gêneros textuais”. Nele, Marcuschi ressalta que os gêneros não podem ser definidos “mediante certas propriedades que lhe devam ser necessárias e suficientes”. (MARCUSCHI, 2002: 30). Apresentando o exemplo em que um artigo de opinião foi escrito no formato de um poema, ensina sobre o conceito de intertextualidade inter-gêneros (um gênero com a função de outro). É importante frisar que “o predomínio da função supera a forma na determinação do gênero, o que evidencia a plasticidade e dinamicidade dos gêneros”. (MARCUSCHI, 2002: 30).
Levando o mesmo título do livro em que se encontra o artigo, o item 6, “gêneros textuais e ensino”, comenta sobre a necessidade de se realizar o trabalho com o texto, em sala de aula, a partir de gêneros orais e escritos. Marcuschi, inclusive, ressalta que esta é uma preocupação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). O autor recomenda “cautela com a ideia de gêneros orais e escritos, pois essa distinção é complexa e deve ser feita com clareza.” (MARCUSCHI, 2002: 33).
A partir da citação da linguista alemã Elizabeth Gulich, afirma-se “que os interlocutores seguem em geral três critérios para designarem seus textos: a) canal / meio de comunicação: (telefonema, carta, telegrama); b) critérios formais: (conto, discussão, debate, contrato, ata, poema); c) natureza do conteúdo: (piada, prefácio de livro, receita culinária, bula de remédio).” (MARCUSCHI, 2002: 33).
Para estabelecer critérios de distinção entre gêneros e tipos textuais, o autor afirma que é possível dizer que os gêneros são fundamentados em critérios externos ao texto – critérios sócio-comunicativos e discursivos – e os tipos textuais, em critérios internos – lingüísticos e formais.
Marcuschi evidencia a importância de se trabalhar o texto a partir de gêneros, em sala de aula. Ele sugere, por exemplo, a tarefa de identificação dos gêneros textuais presentes em uma revista ou jornal, indicando as características principais de cada gênero.
Finalmente, o item 7 apresenta as observações finais do autor. Neste espaço, o autor esclarece que “a relevância maior de tratar os gêneros textuais acha-se particularmente situada no campo da Linguística Aplicada. (...) é de interesse aos que trabalham e militam nessas áreas.” (MARCUSCHI, 2002: 35).
Marcuschi aponta para a realidade dos livros didáticos, que apresentam textos de variados gêneros, mas promovem a análise de apenas poucos gêneros, e sempre os mesmos. Ele afirma que apenas poucas vezes os gêneros são tratados de forma sistemática.
Sendo que Luiz Antônio Marcuschi é um ícone no estudo da Linguística Textual no Brasil, autor de diversos textos de evidente relevância para a linguística, a sua obra é absolutamente recomendável e de alta confiabilidade. Este texto é de leitura obrigatória para quem queira compreender a textualidade, pois os conceitos nele tratados são fundamentais e apresentados de forma altamente didática e esclarecedora. É muito pouco provável que alguém que estude esse texto com atenção venha a ter dúvidas, no futuro, sobre os conceitos apresentados, especialmente sobre tipos e gêneros textuais.
Marcuschi é professor titular na Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística. Atuando principalmente em filosofia da linguagem, metodologia, epistemologia e lógica.

4 comentários:

Unknown disse...

Ótima resenha, Késia. Parabéns! Muito útil a quem tiver dúvidas sobre gêneros e tipologias textuais.

Unknown disse...

Ótima resenha. Parabéns!
Muito útil para que tiver dúvidas sobre gêneros e tipologias textuais.

Késia Mota disse...

Que bom, Andreia, realmente espero ser útil. Abraços e fica à vontade.

Unknown disse...

Boa tarde, Késia!

Excelente texto!
Vc poderia me passar seu endereço de email para me esclarecer algumas dúvidas sobre o tema?

Obrigada!